Como é do conhecimento dos especialistas, o Treino Desportivo caracteriza-se e liga-se indissoluvelmente ao fenómeno desportivo e é condição essencial ao cumprimento de uma das facetas definidoras deste fenómeno: A SUPERAÇÃO. Universalmente, o Treino Desportivo tem como um dos seus principais objectivos obter um rendimento desportivo máximo.
A preparação de uma equipa para a competição desportiva, pretende conseguir que todos os atletas sejam capazes, individual e colectivamente, de resolver as situações que enfrentam durante a competição ao procurarem obter a vitória, definindo-se, para tal normalmente como metas a atingir:
1. Domínio das técnicas e das tácticas da modalidade.
2. Adaptação do organismo aos esforços intensos solicitados pelo treino e pela competição, traduzida na elevação das capacidades de trabalho físico e na aquisição, manutenção e desenvolvimento das qualidades atléticas de velocidade, força, resistência e coordenação.
3. Habituação progressiva dos atletas às exigências psico-emocionais da competição.
É então no treino que os praticantes se habituam ao exercício físico intenso, à execução das técnicas e à interpretação das tácticas. É no treino que as suas capacidades são aumentadas. E é no treino que se aproveitam as aptidões, orientando os praticantes para o desempenho das funções que mais se ajustam às suas características.
Podemos assim dizer que o Treino Desportivo procura estabelecer, pelos seus efeitos, uma adaptação do indivíduo às condições que lhe são impostas, pelo treino e pela competição, de modo a assegurar uma eficiência máxima com um dispêndio mínimo de energia, e uma recuperação rápida.
O Treino Desportivo é um assunto sério e complexo que exige estudo, conhecimento na sua aplicação, e que não se enquadra com atitudes superficiais e métodos ocasionais.O Treino Desportivo, solicita e exige profunda e sólida formação, requer uma atitude activa e criadora por parte do treinador.Não restam dúvidas de que o Treino Desportivo quando ao nível da Alta Competição, exige meios técnicos, laboratoriais e consequente apoio médico a suportar e a enquadrar toda a prática de terreno e todo o trabalho de organização, planeamento e controlo.
Para se procurar atingir o OBJECTIVO FINAL DO TREINO, justificativo da sua própria existência, cria-se um processo complexo de exercitação, condicionado segundo princípios biológicos e pedagógicos que é imperioso respeitar, o qual visa alcançar anecessária adaptação do organismo dos atletas aos níveis morfológico, funcional, técnico, táctico e psicológico que lhes são exigidos pela própria competição.
Este processo de ADAPTAÇÃO, baseia-se na existência de uma qualidade do organismo humano que lhe permite reagir aos estímulos exteriores que perturbam o seu estado de equilíbrio, procurando através dessa reacção alcançar a necessária adaptação à situação de desordem que surgiu, criando para tal um novo estado de equilíbrio qualitativamente superior.É da correcta direcção desta relação ESTÍMULO – ADAPTAÇÃO, por parte do treinador, que se consegue produzir a desejada evolução dos atletas, cujo padrão de medida irá ser definido em termos de resultado, na competição.Importante e determinante também, é conhecer a MODALIDADE e o PRATICANTE.
Actualmente é muito importante em desportos colectivos:
Consciencializar o atleta para um trabalho exigente;
Trabalhar a Coordenação;
Trabalhar a velocidade na técnica e táctica individual;
Trabalhar com maior intensidade e com intervalos mais curtos;
Melhorar a Flexibilidade;
Dedicar mais tempo de treino específico para o Guarda-Redes;
Elaborar exercícios com mais qualidade;
Finalmente Procurar o Treino Integrado.
Mas mais importante, é definir desde o primeiro dia um modelo e uma filosofia de jogo. Depois garantir condições físicas estáveis. No global manter elevados índices de confiança no grupo.
Dezembro 2006
2.11.06
A FORMAÇÃO FÍSICA DO PRATICANTE DESPORTIVO DE COMPETIÇÃO
Carlos Alberto Ferrão Garcia
Licenciado em Educação Física
Professor do Ensino Básico na Escola EB 2,3 Mestre Domingos Saraiva (Algueirão)
Preparador Físico da Equipa Sénior de Hóquei em Patins do Sport Lisboa e Benfica entre 1998 e 2006
Formador da European Handball Federation.
Licenciado em Educação Física
Professor do Ensino Básico na Escola EB 2,3 Mestre Domingos Saraiva (Algueirão)
Preparador Físico da Equipa Sénior de Hóquei em Patins do Sport Lisboa e Benfica entre 1998 e 2006
Formador da European Handball Federation.
A formação desportiva, para além do respeito pelas características próprias do desenvolvimento do indivíduo, da natureza do contexto em que a actividade se realiza e da especificidade do conteúdo a ensinar, não deve visar uma transmissão rápida de ensino, ou seja nada de performances imediatas. Torna-se pois necessário desenvolver ou criar em cada indivíduo o máximo de possibilidades compatíveis com o seu equipamento biológico e psicológico.
O objectivo da formação desportiva, centra-se no desenvolvimento das capacidades corporais do indivíduo, de acordo com as práticas sujeitas a normas instituídas socialmente através de padrões motores inscritos no domínio da eficiência, ou seja os campeões referência do momento. Valorizar e complementar a educação desportiva do jovem praticante e rentabilizar a progressão do jovem praticante no sentido de o encaminhar para o alto rendimento, promovendo a detecção de talentos serão objectivos sempre a ter em conta por um treinador profissional. Esta formação deverá utilizar todos os tipos de condutas motoras visando uma melhoria da bagagem técnica e táctica.
Na formação desportiva, deveremos também preocupar-nos com os perigos da especialização precoce. Actualmente é tão importante respeitar os níveis de desenvolvimento, afectivo, psicomotor e cognitivo dos jovens, como respeitar as características que o desporto moderno assumiu na sociedade competitiva actual.O perigo da especialização precoce começa logo na aquisição de automatismos, mas, o retardamento do crescimento esquelético, desajustamentos posturais, traumatismos articulares, problemas ligamentares e tendinosos e problemas cardíacos e hormonais, deverão ser tomados em consideração de forma a evitá-los.
No global, deveremos procurar uma atenção qualitativa ao reforço da tonicidade e suas repercussões ao nível ligamentar, muscular e tendinoso e dedicar uma maior insistência na educação postural e melhoramento da estruturação espácio-temporal como meio de suporte às exigências da actividade.
As práticas físicas a propor deverão também visar a educação e a formação da personalidade do jovem atleta, pelo que a preparação física assume importância básica.Sem pretender desvalorizar a preparação técnica e táctica, o que determina o nível dos gestos e dos movimentos é sem dúvida a componente física. Torna-se necessário ter em conta este aspecto primordial que deve estar presente em todas as sessões de treino.
A preparação física é a base de todas as preparações e deve ocupar um espaço significativo em cada período de uma época desportiva.
A preparação física é o nível do desenvolvimento das possibilidades motoras do atleta, obtidas com a repetição sistemática dos exercícios físicos. Significa a melhoria das qualidades motoras, o domínio de uma variedade larga de habilidades e o desenvolvimento dos índices morfológicos e funcionais do organismo em conformidade com as exigências da prática desportiva.
O desenvolvimento do processo da preparação física é condicionado por uma série de factores determinantes, como o estado de saúde, o desenvolvimento físico, as aptidões motoras e as qualidades psíquicas.Como sabemos, toda a técnica e táctica assim como as características físicas resultam das qualidades motoras básicas. Se estas se apresentarem de uma forma deficiente na estrutura biológica do jovem, mesmo com um processo bom de preparação, nunca passaremos de um resultado mau. Consequentemente, o primeiro passo na preparação física é a selecção / avaliação do praticante.
A preparação física é trabalhada em duas vertentes, a da preparação física geral e a da preparação física específica.A primeira tenta enriquecer a bagagem motora do praticante. O seu alvo principal é aumentar a capacidade funcional do organismo e desenvolver as qualidades motoras impostas por um determinado nível da preparação dos atletas. É fundamentalmente uma preparação multilateral.A segunda é um processo da manipulação selectiva dos grandes exercícios e habilidades motoras, de acordo com as características do esforço específico da modalidade desportiva e de acordo com as exigências dos resultados. Faz a ligação entre as qualidades motoras e o automatismo da modalidade e entre o desenvolvimento morfológico funcional e a técnica e a táctica da actividade.
Perceber e dominar a preparação física tem de passar obrigatoriamente pelo conhecimento do conceito de CARGA no treino desportivo. E nesta matéria torna-se primordial a atenção para o binómio actividade – repouso.
A preparação para cargas elevadas, ou seja o trabalho contínuo de crescimento da carga, deverá ter em conta que o atleta só suportará cargas elevadas, se tiver sido preparado nesse sentido. Significa que teve condições e sobretudo tempo para tal. Nesse sentido o aumento da carga, deverá estar relacionado com o desenvolvimento do atleta de forma a que o seu domínio seja total. Verificamos com frequência que a má gestão do tempo é normalmente o factor determinante. Deveremos ter então em consideração, que a preparação física do jovem praticante assentará nos seguintes dois aspectos:
A preparação para cargas elevadas, ou seja o trabalho contínuo de crescimento da carga, deverá ter em conta que o atleta só suportará cargas elevadas, se tiver sido preparado nesse sentido. Significa que teve condições e sobretudo tempo para tal. Nesse sentido o aumento da carga, deverá estar relacionado com o desenvolvimento do atleta de forma a que o seu domínio seja total. Verificamos com frequência que a má gestão do tempo é normalmente o factor determinante. Deveremos ter então em consideração, que a preparação física do jovem praticante assentará nos seguintes dois aspectos:
1. A orientação da carga de treino.
2. Os objectivos metodológicos definidos em função da orientação da carga.
Para o primeiro ponto a carga de treino terá que ser definida em função...- da caracterização do atleta no que respeita a factores genéticos, crescimento, maturação, níveis da formação, níveis do desenvolvimento das capacidades motoras;- a caracterização da modalidade desportiva, no campo motor, psíquico e metabólico;- e da caracterização do quadro competitivo.
Sobre o segundo ponto, e resultante das caracterizações atrás indicadas, deveremosprocurar os seguintes três objectivos metodológicos:
1- Sistematização do treino numa perspectiva a longo prazo, com uma identificação profunda dos conteúdos, das metodologias, dos métodos e dos processos do controlo e da avaliação.
2- Organização adequada do desenvolvimento das capacidades motoras, precisando claramente as relações entre volume, intensidade e densidades do treino.
3- Respeito pelo princípio da progressão da carga como um dos mais importantes na melhoria das adaptações funcionais do organismo que levam à melhoria da prática desportiva.
28.10.06
COMUNICAÇÃO
"O que há de mais terrível na comunicação é o inconsciente da comunicação".
Bourdieu
Introdução
Propositadamente o título deste trabalho é uma citação. Não que tenha directamente a ver com todo ele, porque este foi feito ao contrário, isto é primeiro escrevi e depois decidi atribuir-lhe um título, mas dizia eu, é uma citação que me despertou muito interesse e preocupação e que no fundo, no subconsciente está sempre presente. Isto é funciona como o sinal vermelho.
Não sou especialista em comunicação, sou profissional de educação física, mas curiosamente tenho feito inúmeras experiências na área da comunicação, não só na feitura de vários trabalhos para a imprensa em geral mas também por várias vezes assumindo o papel de coordenação ou do Jornal da Escola ou do Clube de Jornalismo em contexto escolar.
I. A Civilização da Comunicação
Constitui um lugar comum afirmar que a vida moderna é invadida pelo ruído e, em todos os graus de intensidade, força e abundância, pela palavra. No entanto, é verdade que se fala muito na nossa civilização. Todavia, não se deve concluir apressadamente que se está perante uma civilização da "comunicação" e do diálogo.
O certo é que nunca se ouviu falar tanto e nunca se falou tanto como agora. Difundida, amplificada, irrigada pelos meios técnicos mais poderosos ou mais discretos, mais colectivos ou individuais, mais gigantescos ou miniaturizados, a palavra serve-se de todas as vias e dimensões para se expandir.
A uma civilização do silêncio parece ter sucedido uma civilização da palavra; mas, ao mesmo tempo a uma civilização da conversação parece ter sucedido a civilização do monólogo.
A palavra servia noutros tempos para transmitir ideias, intenções, convicções. Servia para exprimir sentimentos, isto é, formulá-los, explicá-los, justificá-los. E estas permutas, das quais não era excluída a argumentação, faziam-se no decorrer de conversas mais ou menos íntimas.
Não sucede o mesmo actualmente. Já não são apenas ideias ou sentimentos que se transmitem pela palavra. São coisas, bens ou produtos. Além disso a palavra já não implica necessariamente a presença mais ou menos distante de dois ou vários interlocutores. É toda a gente que fala a toda a gente, ou ninguém que fala a ninguém. A relação de comunicação que toda a linguagem pressupõe reduz-se à sua forma e conteúdo.
Não obstante, é preciso reconhecer que, se a palavra bloqueia a nossa sociedade, não é sempre com efeitos negativos que o faz. Nunca se exprimiram, falando ou cantando, tantos sentimentos, desgostos, sonhos ideias, realidades, que, outrora, ficavam prisioneiros dos livros ou dos salões. Não está provado que a rádio e a televisão tenham morto por toda a parte a conversação.
A sociedade é dominada pelos imperativos económicos de que o principal é a rapidez da distribuição.
Há muito tempo que os pedagogos compreenderam que a escola devia não só instruir, mas também educar. Se a educação foi muitas vezes confundida com diversas formas de adestramento, de adestramento intelectual sobretudo, não faltaram reformadores para exaltar a libertação do indivíduo, para castigar o excesso de cerebralidade que caracterizava a pedagogia tradicional, para reclamar o respeito da espontaneidade infantil e para substituir os objectivos estritos da escola tradicional pelo desenvolvimento da personalidade.
Ao fazer isto, julgava-se estar a trabalhar para a realização e felicidade do indivíduo, porquanto o objectivo da escola já não era apenas formar bons alunos, mas formar homens, preparando-os para a vida social, intelectual e moral contemporânea. Este ideal deixava de ser um tema literário graças aos progressos da psicologia, nomeadamente da psicologia da criança, e podiam conceber-se meios pedagógicos melhor adaptados à natureza das crianças, porque estas começavam a ser melhor conhecidas.
Foi assim que, sob formas diversas e com resultados mais ou menos felizes, a escola básica inicialmente e, muito mais tarde e com mais discrição, o ensino técnico se propuseram fazer entrar no projecto escolar fins que pareciam ter sido durante muito tempo afastados dele: - a preocupação da vida e a preocupação do concreto.
Mas na nossa sociedade actual, em que se fala tanto e onde se fala tanto para não dizer nada, ninguém se dirige seriamente aos jovens. Ninguém os escuta. Ninguém os chama. Contentamo-nos em ocupá-los, guiá-los, dirigi-los, comandá-los. Talvez seja da competência dos professores criar para os seus alunos, e porque não também para os outros, essa sociedade em que se falaria para dizer alguma coisa, para dizê-lo bem, em que a linguagem oferecida e aceite, oferecida e reassumida, permitisse aos homens sobrevir.
II. A Tecnologia
Creio que já podemos verificar que a sociedade da comunicação está, se quisermos ver, a transformar-se em sociedade pedagógica. Doravante a televisão é uma escola, o jornal é uma escola, a rua é uma escola. Estamos cada vez mais, a orientarmo-nos para uma forma de sociedade em que a formação será contínua, até à idade da reforma, e, deste modo, ela poderá acompanhar a profissão. Será pois necessário que o saber vá ter com elas, mais do que elas com o saber. Existem não só distâncias espaciais como também financeiras, psicológicas, sociais. O problema está em vencê-las. E se calhar será preciso pensar seriamente na formação do corpo docente tendo em conta o atrás exposto. Tudo isto implica que se utilizem sistemas técnicos que já temos à nossa disposição, correio electrónico, fax, televisão por cabo, que ainda não utilizamos tão frequentemente no ensino na escola.
As novas tecnologias, actualmente em desenvolvimento, permitirão a pessoas de todos os escalões etários e sócio-económicos aprender qualquer coisa, onde quer que seja, quando quer que seja, com óptimos resultados:
· "Sofia, 8 anos de idade, está em casa, debruçada sobre o seu computador. Perante os seus olhos, um formigueiro está a invadir um jardim. Os insectos vão à procura de alimentos: grãos, larvas,... e têm de escapar aos perigos que os ameaçam – aranhas ou restos de insecticida; se as provisões faltarem, o formigueiro definhará e acabará por desaparecer. Sofia não se limita a observar, é ela que guia as formigas para novas reservas, escavando galerias. No quarto ao lado, Laura a sua irmã de 19 anos, estudante de literatura contemporânea, descobre um poema do músico John Cage através do seu computador, que está equipado com um leitor CD-ROM. Antes de ler o texto transcrito no monitor, pode ouvir uma leitura feita pelo próprio autor e assistir a uma entrevista filmada em vídeo. Assim que acaba cede o computador ao irmão Daniel, que está a estudar engenharia e quer fazer um modelo baseado no problema mecânico em que está debruçado há várias horas. Daniel instalou um programa que lhe permite desenhar um esboço do problema em causa: duas massas a deslizar sobre um plano inclinado e ligadas por molas, quer entre si quer a uma superfície fixa. Nela estão indicados as massas, as velocidades e todos os parâmetros necessários. Em seguida, carregando no rato, como que por magia, o ecrã anima-se e mostra o movimento descrito pelo sistema. Mais tarde a mãe Filomena, quando chega a casa vai de imediato ligar a Internet pois dentro de alguns minutos iniciará mais uma sessão de uma Acção de Formação, para progressão na sua carreira."
Isto já não é ficção. Tudo pura realidade. Mas o futuro anuncia ainda mudanças muito mais radicais. O telemóvel com imagem já aí está.
III. O Jornalismo
A redescoberta do poder do jornalismo surge, curiosamente, ao mesmo tempo que a redescoberta dos poderes públicos. Hoje é impossível negar a importância da actividade jornalística na formação de uma concepção do mundo adequada aos grandes consensos e na construção dos sistemas de relevância dos actores sociais. Porém, simultaneamente não é possível deixar de abandonar os pressupostos clássicos de alguma teoria crítica para ter em conta uma visão mais complexa das situações de interesse, de conflitos e de poderes nas sociedades capitalistas avançadas.
Um pouco por toda a parte, ao lado do reconhecimento do poder dos media, surgem movimentos académicos e sociais – como "media literacy" – tendendo a educar as pessoas no sentido de acederem, avaliarem e produzirem mensagens mediáticas e que visam transformar os recipientes passivos de mensagens mediáticas em conhecedores habilitados das tecnologias relacionadas com os media, designadamente verificando a sua capacidade para manipularem audiências e introduzirem novos temas. Neste movimento, que se faz sentir de forma generalizada nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, Escócia, Canadá, Austrália, Suécia e Espanha, cada vez se enfatiza mais a necessidade de saber que tipo de conhecimento, atitudes e competências se tornaram essenciais para se ser um cidadão na idade dos media. Ou seja, a liberdade de expressão, cuja defesa é uma exigência democrática incontornável, requer jornalistas e públicos bem preparados e exigentes. Se o sacrifício da liberdade de imprensa é impensável, esta tem de ser confrontada com a possibilidade de públicos mais exigentes e participativos. A tomada de consciência desta realidade pode, deste modo, traduzir-se em duas consequências. Por um lado, verificar-se-á o aumento da resistência do público, o qual pode tornar-se cada vez mais interventor em relação ao monopólio dos mecanismos de produção simbólica. Esta parece ser uma dinâmica social que, apesar de todas as contradições, parece tomar novo fôlego: a exigência de educação para os media, a criação de observatórios de imprensa, a multiplicação de organizações que procuram reflectir sobre as consequências do poder dos media sobre a liberdade dos cidadãos. Por outro lado, parece evidente que quem escreve sobre o mundo tem que lançar um olhar, ganhando, nomeadamente, uma crescente consciência crítica sobre os seus próprios instrumentos profissionais. A complexidade crescente das sociedades exige outros saberes que permitam ultrapassar o digníssimo saber de experiência feito. Os problemas inerentes à legitimidade da profissão, as especializações crescentes, a mundialização da indústria cultural, a complexidade cada vez maior das sociedades e as responsabilidades sociais que incumbe à imprensa fazem com que o jornalista não reduza os seus saberes ao conhecimento do livro de estilo, à capacidade narrativa, ao uso do prontuário a ao domínio da língua portuguesa.
IV. Os Media e a Sociedade
Dos anos oitenta para os anos noventa o jornalismo evoluiu muito, não só em Portugal mas também no mundo. As fronteiras da actividade diluíram-se. Marketing, audiências e informática, em todas as organizações noticiosas, design e infografia, especificamente na imprensa, foram palavras que, para o bem e para o mal, se instalaram no vocabulário jornalístico e no dia a dia das redacções, acompanhando fenómenos paradoxais, como o da homogeneização dos conteúdos e da segmentação das audiências ou o da desregulamentação dos meios de comunicação e da sua concentração pró-monopolista e oligopólica.
No mundo no início dos anos oitenta, não se adivinhava a globalização exponencial de um fenómeno reservado a iniciados como era a Internet, onde não há orgão de comunicação que se preze que não tenha uma edição on line e através da qual muitos jornalistas obtêm informação a que dificilmente teriam acesso de outro modo.
No nosso País, no início dos anos oitenta não existiam jornais como O Independente ou o Público, nem rádios como a TSF ou a miríade de rádios locais e regionais. Não existiam estações privadas de televisão como a SIC, nem televisões por cabo. O aparecimento de televisões regionais e locais ainda não tinha sido contemplado na lei portuguesa. Não se falava tanto de sensacionalismo nem de exploração gratuita das emoções devido à luta pelas audiências. Não se falava da eventual necessidade de uma Ordem de Jornalistas. Não tinha havido ainda um caso Taveira nem os computadores tinham chegado às empresas, obrigando a dolorosas reconversões e, na imprensa, também ao despedimento de muitos tipógrafos. Talvez não se falasse tanto de ética e deontologia, a não ser para reclamar pluralismo à RTP e para bater no estafado dogma da objectividade e do seu modelo correspondente de separação entre informação e opinião, apesar de já se sentir que gradualmente os jornalista se estavam a apropriar do campo da análise.
A relação dos media com a sociedade tem vindo a estreitar-se mais e mais, sendo hoje impensável a sociedade actual sem os media que a informam, a condicionam e a determinam na sua organização, nos seus fins, nas suas políticas, e na sua auto-análise e avaliação. Os modelos de comunicação correspondem a diferentes modelos de sociedade. Cada regime escolhe o seu modelo de comunicação ou é por ele determinado. Um regime político totalitário, por exemplo, é incompatível com uma imprensa livre. Os fins que um se propõe estão intimamente relacionados com os fins do outro.
Os meios de comunicação podem e devem desempenhar um papel central na superação da crise da sociedade hodierna, que é sobretudo uma crise de conflitos de valores, apontando os fins últimos e trabalhando em ordem a realizá-los no dia a dia. Antes de mais, é preciso recuperar aqueles valores humanos, tão naturais para os nossos pais , como a honra, a fidelidade, a benevolência, a generosidade, a misericórdia, e que com a rápida evolução económica, social e cultural quase desapareceram do nosso quotidiano. É preciso que a forma como os media comunicam tenham em atenção esses valores, olhando o mundo e o ser humano como realidades dispostas ao bem e à verdade. Ou seja, é preciso que a informação do slogan, do espectáculo, do escândalo, do mau gosto e da violência, tenha o repúdio dos novos comunicadores, de pessoas lúcidas, com vistas largas.
É certo que os fins não justificam os meios, mas os meios ainda menos justificam os fins. Ora é isto que acontece hoje numa comunicação de consumo, virada para a satisfação da curiosidade informativa e para a diversão. Desde que as audiências sejam altas, vale tudo. A sociedade actual e a comunicação que é hoje uma das suas traves mestras têm de se reconsciencializar dos seus fins, daquilo que efectivamente lhes dá o sentido. E esse sentido só pode advir dos valores da unidade, da verdade, da bondade e da beleza, que determinam todos os entes no mais fundo do seu ser.
V. O JORNAL ESCOLAR – Uma experiência na Escola B 2.3 Mestre Domingos Saraiva no Algueirão.
" Os grandes educadores sempre souberam que a aprendizagem não se faz apenas nas salas de aula nem sob a supervisão de professores."
Bill Gates
Em 1996.1997 decide-se na Escola iniciar um Jornal. Para o título promove-se um concurso entre todos os alunos e com o parecer favorável do Conselho Pedagógico, nasce o MDS. No entanto, propostas como Jornal Jovem, Diário Escolar, As Melhores Notícias, A Janela Mágica, O Mundo da Lua e Saraivada foram também fruto de menções honrosas.
Na nossa perspectiva a existência de um Jornal de Escola, justificava-se se o envolvimento em seu redor fosse efectivamente mobilizador de todos os intervenientes da Comunidade Escolar. Dos professores aos Alunos, dos Familiares aos Funcionários, dos Privados aos Organismos e Entidades Oficiais.
Organizou-se então um Clube de Jornalismo tendo em vista a interdisciplinaridade, a ligação Escola – Meio, a concretização de saberes através de actividades multidisciplinares e que conduza no futuro os alunos a exercerem uma cidadania responsável. O Clube assenta nos seguintes pressupostos:
1. Porque a Escola é jovem, dinâmica, perspectivada para o futuro, pretendendo promover a qualidade e a inovação na educação.
Porque a Escola deve servir a realidade local e dispõe de recursos humanos, materiais e tecnológicos.
Porque cabe ao Sistema Educativo o papel de animador e Criador de situações que facilitem a aprendizagem.
Porque escrever é uma actividade comunicativa com sentido social.
Porque vivemos numa sociedade dominada pelos "media".
Porque o futuro passa pelas tecnologias de informação.
Com o Clube de Jornalismo, pretende-se:
a. Manifestar sensibilidade aos problemas da Escola e da Comunidade e participar de forma construtiva em projectos de Escola, evidenciando consciência de sentido da sua intervenção.
Respeitar regras básicas de organização democrática na sua actuação dentro do grupo.
Manifestar abertura e confiança nas relações interpessoais, na realização de tarefas, mobilizando a experiência e as competências adquiridas para superar as dificuldades.
Revelar capacidades de adaptação a situações novas, evidenciando progressiva autonomia e esforço pessoal.
Concretizar iniciativas e fazer opções perante alternativas diversas, relativas a projectos, actividades, modos de trabalho, situações problemáticas, conduzindo à responsabilização pelas escolhas efectuadas.
Respeitar compromissos na realização das tarefas necessárias.
Utilizar técnicas de recolha e tratamento de informações, servindo-se com oportunidade de recursos audio – visuais e informáticos disponíveis.
Utilizar processos de aperfeiçoamento dos escritos em língua portuguesa para resolver problemas relacionados com a intencionalidade e adequação comunicativas.
Comunicar criativamente factos, sentimentos, vivências seleccionando os meios em função da adequação comunicativa e dominando técnicas de expressão.
Cada número do MDS, obedece a uma estrutura com as seguintes características:
· EDITORIAL - construído pelos alunos, simples e normalmente com uma mensagem.
OPINIÃO – Página do adulto para a Comunidade-
DESTAQUE - Assunto do momento, selecção e tratamento do Clube de Jornalismo.
ENTREVISTA – Trabalho integral dos alunos, da preparação ao texto final, passando pela condução da entrevista.
PÁGINAS ESPECÍFICAS – colaboração de Professores e Alunos de diferentes turmas e disciplinas, bem como de diferentes temas.
COLABORAÇÃO DIRECTA DOS LEITORES – Resultado da correspondência estabelecida, bem como da vontade dos alunos.
NOTÍCIAS informação vária da Comunidade e de várias proveniências.
SUPLEMENTOS ESPECIAIS – trabalho produzido integralmente por grupos específicos ( ambiente, jornalismo, ...)
FICHA TÉCNICA
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Numa sociedade em profundas mudanças, o que justifica plenamente o sentido da Escola é sem dúvida o desenvolvimento, nos alunos, do sentido crítico e criativo sobre a actualidade, para que eles mesmos possam construir o seu próprio amanhã.
A terminar uma citação de Manuel Carlos Chaparro, Professor de jornalismo no Brasil:
" O jornalismo é um tipo de actividade sem finalidade própria. Existe em função da cultura e dos processos sociais. Coisas muito maiores que o jornalismo. Além disso jornalismo não pode Ter ambições de construir sociedades. Isso pertence aos processos culturais. Jornalismo e Jornal não é a mesma coisa. O segundo é negócio. Mas para existir o primeiro tem de haver o segundo..."
BIBLIOGRAFIA
Raimundo, Orlando - A Linguagem dos Jornalistas, Ed. Acontecimento 1996
Correia, Carlos - Televisão Interactiva, Ed. Notícias 1998
Oliveira, Isabel e outros - A Integração dos Media nas Práticas Educativas, IIE 1997
Vieira, Ausenda e outros - Jornais Escolares, IIE 1996
Santos, António e outros – O Jornal Escolar, Ed. Correio Pedagógico 1995
Kunsch - Comunicação e Educação, Caminhos Cruzados, Ed. Loyola 1986
Crato, Nuno - Comunicação Social – a Imprensa, Ed.Presença 1989
Araújo, Silva - Vamos Falar de Jornalismo, Ed. DGCS 1988
Agnés, Jean e outros - Apprendre avec la presse, Ed. Retz 1988E muitos, muitos jornais...
Bourdieu
Introdução
Propositadamente o título deste trabalho é uma citação. Não que tenha directamente a ver com todo ele, porque este foi feito ao contrário, isto é primeiro escrevi e depois decidi atribuir-lhe um título, mas dizia eu, é uma citação que me despertou muito interesse e preocupação e que no fundo, no subconsciente está sempre presente. Isto é funciona como o sinal vermelho.
Não sou especialista em comunicação, sou profissional de educação física, mas curiosamente tenho feito inúmeras experiências na área da comunicação, não só na feitura de vários trabalhos para a imprensa em geral mas também por várias vezes assumindo o papel de coordenação ou do Jornal da Escola ou do Clube de Jornalismo em contexto escolar.
I. A Civilização da Comunicação
Constitui um lugar comum afirmar que a vida moderna é invadida pelo ruído e, em todos os graus de intensidade, força e abundância, pela palavra. No entanto, é verdade que se fala muito na nossa civilização. Todavia, não se deve concluir apressadamente que se está perante uma civilização da "comunicação" e do diálogo.
O certo é que nunca se ouviu falar tanto e nunca se falou tanto como agora. Difundida, amplificada, irrigada pelos meios técnicos mais poderosos ou mais discretos, mais colectivos ou individuais, mais gigantescos ou miniaturizados, a palavra serve-se de todas as vias e dimensões para se expandir.
A uma civilização do silêncio parece ter sucedido uma civilização da palavra; mas, ao mesmo tempo a uma civilização da conversação parece ter sucedido a civilização do monólogo.
A palavra servia noutros tempos para transmitir ideias, intenções, convicções. Servia para exprimir sentimentos, isto é, formulá-los, explicá-los, justificá-los. E estas permutas, das quais não era excluída a argumentação, faziam-se no decorrer de conversas mais ou menos íntimas.
Não sucede o mesmo actualmente. Já não são apenas ideias ou sentimentos que se transmitem pela palavra. São coisas, bens ou produtos. Além disso a palavra já não implica necessariamente a presença mais ou menos distante de dois ou vários interlocutores. É toda a gente que fala a toda a gente, ou ninguém que fala a ninguém. A relação de comunicação que toda a linguagem pressupõe reduz-se à sua forma e conteúdo.
Não obstante, é preciso reconhecer que, se a palavra bloqueia a nossa sociedade, não é sempre com efeitos negativos que o faz. Nunca se exprimiram, falando ou cantando, tantos sentimentos, desgostos, sonhos ideias, realidades, que, outrora, ficavam prisioneiros dos livros ou dos salões. Não está provado que a rádio e a televisão tenham morto por toda a parte a conversação.
A sociedade é dominada pelos imperativos económicos de que o principal é a rapidez da distribuição.
Há muito tempo que os pedagogos compreenderam que a escola devia não só instruir, mas também educar. Se a educação foi muitas vezes confundida com diversas formas de adestramento, de adestramento intelectual sobretudo, não faltaram reformadores para exaltar a libertação do indivíduo, para castigar o excesso de cerebralidade que caracterizava a pedagogia tradicional, para reclamar o respeito da espontaneidade infantil e para substituir os objectivos estritos da escola tradicional pelo desenvolvimento da personalidade.
Ao fazer isto, julgava-se estar a trabalhar para a realização e felicidade do indivíduo, porquanto o objectivo da escola já não era apenas formar bons alunos, mas formar homens, preparando-os para a vida social, intelectual e moral contemporânea. Este ideal deixava de ser um tema literário graças aos progressos da psicologia, nomeadamente da psicologia da criança, e podiam conceber-se meios pedagógicos melhor adaptados à natureza das crianças, porque estas começavam a ser melhor conhecidas.
Foi assim que, sob formas diversas e com resultados mais ou menos felizes, a escola básica inicialmente e, muito mais tarde e com mais discrição, o ensino técnico se propuseram fazer entrar no projecto escolar fins que pareciam ter sido durante muito tempo afastados dele: - a preocupação da vida e a preocupação do concreto.
Mas na nossa sociedade actual, em que se fala tanto e onde se fala tanto para não dizer nada, ninguém se dirige seriamente aos jovens. Ninguém os escuta. Ninguém os chama. Contentamo-nos em ocupá-los, guiá-los, dirigi-los, comandá-los. Talvez seja da competência dos professores criar para os seus alunos, e porque não também para os outros, essa sociedade em que se falaria para dizer alguma coisa, para dizê-lo bem, em que a linguagem oferecida e aceite, oferecida e reassumida, permitisse aos homens sobrevir.
II. A Tecnologia
Creio que já podemos verificar que a sociedade da comunicação está, se quisermos ver, a transformar-se em sociedade pedagógica. Doravante a televisão é uma escola, o jornal é uma escola, a rua é uma escola. Estamos cada vez mais, a orientarmo-nos para uma forma de sociedade em que a formação será contínua, até à idade da reforma, e, deste modo, ela poderá acompanhar a profissão. Será pois necessário que o saber vá ter com elas, mais do que elas com o saber. Existem não só distâncias espaciais como também financeiras, psicológicas, sociais. O problema está em vencê-las. E se calhar será preciso pensar seriamente na formação do corpo docente tendo em conta o atrás exposto. Tudo isto implica que se utilizem sistemas técnicos que já temos à nossa disposição, correio electrónico, fax, televisão por cabo, que ainda não utilizamos tão frequentemente no ensino na escola.
As novas tecnologias, actualmente em desenvolvimento, permitirão a pessoas de todos os escalões etários e sócio-económicos aprender qualquer coisa, onde quer que seja, quando quer que seja, com óptimos resultados:
· "Sofia, 8 anos de idade, está em casa, debruçada sobre o seu computador. Perante os seus olhos, um formigueiro está a invadir um jardim. Os insectos vão à procura de alimentos: grãos, larvas,... e têm de escapar aos perigos que os ameaçam – aranhas ou restos de insecticida; se as provisões faltarem, o formigueiro definhará e acabará por desaparecer. Sofia não se limita a observar, é ela que guia as formigas para novas reservas, escavando galerias. No quarto ao lado, Laura a sua irmã de 19 anos, estudante de literatura contemporânea, descobre um poema do músico John Cage através do seu computador, que está equipado com um leitor CD-ROM. Antes de ler o texto transcrito no monitor, pode ouvir uma leitura feita pelo próprio autor e assistir a uma entrevista filmada em vídeo. Assim que acaba cede o computador ao irmão Daniel, que está a estudar engenharia e quer fazer um modelo baseado no problema mecânico em que está debruçado há várias horas. Daniel instalou um programa que lhe permite desenhar um esboço do problema em causa: duas massas a deslizar sobre um plano inclinado e ligadas por molas, quer entre si quer a uma superfície fixa. Nela estão indicados as massas, as velocidades e todos os parâmetros necessários. Em seguida, carregando no rato, como que por magia, o ecrã anima-se e mostra o movimento descrito pelo sistema. Mais tarde a mãe Filomena, quando chega a casa vai de imediato ligar a Internet pois dentro de alguns minutos iniciará mais uma sessão de uma Acção de Formação, para progressão na sua carreira."
Isto já não é ficção. Tudo pura realidade. Mas o futuro anuncia ainda mudanças muito mais radicais. O telemóvel com imagem já aí está.
III. O Jornalismo
A redescoberta do poder do jornalismo surge, curiosamente, ao mesmo tempo que a redescoberta dos poderes públicos. Hoje é impossível negar a importância da actividade jornalística na formação de uma concepção do mundo adequada aos grandes consensos e na construção dos sistemas de relevância dos actores sociais. Porém, simultaneamente não é possível deixar de abandonar os pressupostos clássicos de alguma teoria crítica para ter em conta uma visão mais complexa das situações de interesse, de conflitos e de poderes nas sociedades capitalistas avançadas.
Um pouco por toda a parte, ao lado do reconhecimento do poder dos media, surgem movimentos académicos e sociais – como "media literacy" – tendendo a educar as pessoas no sentido de acederem, avaliarem e produzirem mensagens mediáticas e que visam transformar os recipientes passivos de mensagens mediáticas em conhecedores habilitados das tecnologias relacionadas com os media, designadamente verificando a sua capacidade para manipularem audiências e introduzirem novos temas. Neste movimento, que se faz sentir de forma generalizada nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, Escócia, Canadá, Austrália, Suécia e Espanha, cada vez se enfatiza mais a necessidade de saber que tipo de conhecimento, atitudes e competências se tornaram essenciais para se ser um cidadão na idade dos media. Ou seja, a liberdade de expressão, cuja defesa é uma exigência democrática incontornável, requer jornalistas e públicos bem preparados e exigentes. Se o sacrifício da liberdade de imprensa é impensável, esta tem de ser confrontada com a possibilidade de públicos mais exigentes e participativos. A tomada de consciência desta realidade pode, deste modo, traduzir-se em duas consequências. Por um lado, verificar-se-á o aumento da resistência do público, o qual pode tornar-se cada vez mais interventor em relação ao monopólio dos mecanismos de produção simbólica. Esta parece ser uma dinâmica social que, apesar de todas as contradições, parece tomar novo fôlego: a exigência de educação para os media, a criação de observatórios de imprensa, a multiplicação de organizações que procuram reflectir sobre as consequências do poder dos media sobre a liberdade dos cidadãos. Por outro lado, parece evidente que quem escreve sobre o mundo tem que lançar um olhar, ganhando, nomeadamente, uma crescente consciência crítica sobre os seus próprios instrumentos profissionais. A complexidade crescente das sociedades exige outros saberes que permitam ultrapassar o digníssimo saber de experiência feito. Os problemas inerentes à legitimidade da profissão, as especializações crescentes, a mundialização da indústria cultural, a complexidade cada vez maior das sociedades e as responsabilidades sociais que incumbe à imprensa fazem com que o jornalista não reduza os seus saberes ao conhecimento do livro de estilo, à capacidade narrativa, ao uso do prontuário a ao domínio da língua portuguesa.
IV. Os Media e a Sociedade
Dos anos oitenta para os anos noventa o jornalismo evoluiu muito, não só em Portugal mas também no mundo. As fronteiras da actividade diluíram-se. Marketing, audiências e informática, em todas as organizações noticiosas, design e infografia, especificamente na imprensa, foram palavras que, para o bem e para o mal, se instalaram no vocabulário jornalístico e no dia a dia das redacções, acompanhando fenómenos paradoxais, como o da homogeneização dos conteúdos e da segmentação das audiências ou o da desregulamentação dos meios de comunicação e da sua concentração pró-monopolista e oligopólica.
No mundo no início dos anos oitenta, não se adivinhava a globalização exponencial de um fenómeno reservado a iniciados como era a Internet, onde não há orgão de comunicação que se preze que não tenha uma edição on line e através da qual muitos jornalistas obtêm informação a que dificilmente teriam acesso de outro modo.
No nosso País, no início dos anos oitenta não existiam jornais como O Independente ou o Público, nem rádios como a TSF ou a miríade de rádios locais e regionais. Não existiam estações privadas de televisão como a SIC, nem televisões por cabo. O aparecimento de televisões regionais e locais ainda não tinha sido contemplado na lei portuguesa. Não se falava tanto de sensacionalismo nem de exploração gratuita das emoções devido à luta pelas audiências. Não se falava da eventual necessidade de uma Ordem de Jornalistas. Não tinha havido ainda um caso Taveira nem os computadores tinham chegado às empresas, obrigando a dolorosas reconversões e, na imprensa, também ao despedimento de muitos tipógrafos. Talvez não se falasse tanto de ética e deontologia, a não ser para reclamar pluralismo à RTP e para bater no estafado dogma da objectividade e do seu modelo correspondente de separação entre informação e opinião, apesar de já se sentir que gradualmente os jornalista se estavam a apropriar do campo da análise.
A relação dos media com a sociedade tem vindo a estreitar-se mais e mais, sendo hoje impensável a sociedade actual sem os media que a informam, a condicionam e a determinam na sua organização, nos seus fins, nas suas políticas, e na sua auto-análise e avaliação. Os modelos de comunicação correspondem a diferentes modelos de sociedade. Cada regime escolhe o seu modelo de comunicação ou é por ele determinado. Um regime político totalitário, por exemplo, é incompatível com uma imprensa livre. Os fins que um se propõe estão intimamente relacionados com os fins do outro.
Os meios de comunicação podem e devem desempenhar um papel central na superação da crise da sociedade hodierna, que é sobretudo uma crise de conflitos de valores, apontando os fins últimos e trabalhando em ordem a realizá-los no dia a dia. Antes de mais, é preciso recuperar aqueles valores humanos, tão naturais para os nossos pais , como a honra, a fidelidade, a benevolência, a generosidade, a misericórdia, e que com a rápida evolução económica, social e cultural quase desapareceram do nosso quotidiano. É preciso que a forma como os media comunicam tenham em atenção esses valores, olhando o mundo e o ser humano como realidades dispostas ao bem e à verdade. Ou seja, é preciso que a informação do slogan, do espectáculo, do escândalo, do mau gosto e da violência, tenha o repúdio dos novos comunicadores, de pessoas lúcidas, com vistas largas.
É certo que os fins não justificam os meios, mas os meios ainda menos justificam os fins. Ora é isto que acontece hoje numa comunicação de consumo, virada para a satisfação da curiosidade informativa e para a diversão. Desde que as audiências sejam altas, vale tudo. A sociedade actual e a comunicação que é hoje uma das suas traves mestras têm de se reconsciencializar dos seus fins, daquilo que efectivamente lhes dá o sentido. E esse sentido só pode advir dos valores da unidade, da verdade, da bondade e da beleza, que determinam todos os entes no mais fundo do seu ser.
V. O JORNAL ESCOLAR – Uma experiência na Escola B 2.3 Mestre Domingos Saraiva no Algueirão.
" Os grandes educadores sempre souberam que a aprendizagem não se faz apenas nas salas de aula nem sob a supervisão de professores."
Bill Gates
Em 1996.1997 decide-se na Escola iniciar um Jornal. Para o título promove-se um concurso entre todos os alunos e com o parecer favorável do Conselho Pedagógico, nasce o MDS. No entanto, propostas como Jornal Jovem, Diário Escolar, As Melhores Notícias, A Janela Mágica, O Mundo da Lua e Saraivada foram também fruto de menções honrosas.
Na nossa perspectiva a existência de um Jornal de Escola, justificava-se se o envolvimento em seu redor fosse efectivamente mobilizador de todos os intervenientes da Comunidade Escolar. Dos professores aos Alunos, dos Familiares aos Funcionários, dos Privados aos Organismos e Entidades Oficiais.
Organizou-se então um Clube de Jornalismo tendo em vista a interdisciplinaridade, a ligação Escola – Meio, a concretização de saberes através de actividades multidisciplinares e que conduza no futuro os alunos a exercerem uma cidadania responsável. O Clube assenta nos seguintes pressupostos:
1. Porque a Escola é jovem, dinâmica, perspectivada para o futuro, pretendendo promover a qualidade e a inovação na educação.
Porque a Escola deve servir a realidade local e dispõe de recursos humanos, materiais e tecnológicos.
Porque cabe ao Sistema Educativo o papel de animador e Criador de situações que facilitem a aprendizagem.
Porque escrever é uma actividade comunicativa com sentido social.
Porque vivemos numa sociedade dominada pelos "media".
Porque o futuro passa pelas tecnologias de informação.
Com o Clube de Jornalismo, pretende-se:
a. Manifestar sensibilidade aos problemas da Escola e da Comunidade e participar de forma construtiva em projectos de Escola, evidenciando consciência de sentido da sua intervenção.
Respeitar regras básicas de organização democrática na sua actuação dentro do grupo.
Manifestar abertura e confiança nas relações interpessoais, na realização de tarefas, mobilizando a experiência e as competências adquiridas para superar as dificuldades.
Revelar capacidades de adaptação a situações novas, evidenciando progressiva autonomia e esforço pessoal.
Concretizar iniciativas e fazer opções perante alternativas diversas, relativas a projectos, actividades, modos de trabalho, situações problemáticas, conduzindo à responsabilização pelas escolhas efectuadas.
Respeitar compromissos na realização das tarefas necessárias.
Utilizar técnicas de recolha e tratamento de informações, servindo-se com oportunidade de recursos audio – visuais e informáticos disponíveis.
Utilizar processos de aperfeiçoamento dos escritos em língua portuguesa para resolver problemas relacionados com a intencionalidade e adequação comunicativas.
Comunicar criativamente factos, sentimentos, vivências seleccionando os meios em função da adequação comunicativa e dominando técnicas de expressão.
Cada número do MDS, obedece a uma estrutura com as seguintes características:
· EDITORIAL - construído pelos alunos, simples e normalmente com uma mensagem.
OPINIÃO – Página do adulto para a Comunidade-
DESTAQUE - Assunto do momento, selecção e tratamento do Clube de Jornalismo.
ENTREVISTA – Trabalho integral dos alunos, da preparação ao texto final, passando pela condução da entrevista.
PÁGINAS ESPECÍFICAS – colaboração de Professores e Alunos de diferentes turmas e disciplinas, bem como de diferentes temas.
COLABORAÇÃO DIRECTA DOS LEITORES – Resultado da correspondência estabelecida, bem como da vontade dos alunos.
NOTÍCIAS informação vária da Comunidade e de várias proveniências.
SUPLEMENTOS ESPECIAIS – trabalho produzido integralmente por grupos específicos ( ambiente, jornalismo, ...)
FICHA TÉCNICA
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Numa sociedade em profundas mudanças, o que justifica plenamente o sentido da Escola é sem dúvida o desenvolvimento, nos alunos, do sentido crítico e criativo sobre a actualidade, para que eles mesmos possam construir o seu próprio amanhã.
A terminar uma citação de Manuel Carlos Chaparro, Professor de jornalismo no Brasil:
" O jornalismo é um tipo de actividade sem finalidade própria. Existe em função da cultura e dos processos sociais. Coisas muito maiores que o jornalismo. Além disso jornalismo não pode Ter ambições de construir sociedades. Isso pertence aos processos culturais. Jornalismo e Jornal não é a mesma coisa. O segundo é negócio. Mas para existir o primeiro tem de haver o segundo..."
BIBLIOGRAFIA
Raimundo, Orlando - A Linguagem dos Jornalistas, Ed. Acontecimento 1996
Correia, Carlos - Televisão Interactiva, Ed. Notícias 1998
Oliveira, Isabel e outros - A Integração dos Media nas Práticas Educativas, IIE 1997
Vieira, Ausenda e outros - Jornais Escolares, IIE 1996
Santos, António e outros – O Jornal Escolar, Ed. Correio Pedagógico 1995
Kunsch - Comunicação e Educação, Caminhos Cruzados, Ed. Loyola 1986
Crato, Nuno - Comunicação Social – a Imprensa, Ed.Presença 1989
Araújo, Silva - Vamos Falar de Jornalismo, Ed. DGCS 1988
Agnés, Jean e outros - Apprendre avec la presse, Ed. Retz 1988E muitos, muitos jornais...
Carlos Garcia
19.8.06
1.8.06
31.7.06
O que fazer depois da leitura?
Somos dos que pensamos que toda leitura é culturalmente sagrada, na medida em que a consideramos valorizadora do pleno desenvolvimento de uma pessoa. Ao ler um livro, transcendemos o calendário e o relógio. Ao ler um grande autor, vencemos a miopia de só querer fazer coisas imediatamente úteis.
Ler é, suscitar o silêncio interior, lutar contra a violência destruidora do tempo, fazer uma homenagem à inteligência humana, ler é procurar, compreender, descobrir.
Pegando num livro, quem leu por exemplo O Diário de Ann Frank, ficou a saber um pouco mais sobre o nazismo. Provavelmente alguns não tinham uma ideia precisa do que tinha sido e a noção de todo o mal que tinha feito a milhões de inocentes. Quem leu este livro não vai certamente reivindicar este regime no futuro.
Pegando num autor, ler Eça de Queirós, talvez o melhor escritor à face da Terra, (e é português), leva-nos a viajar no tempo, mas com uma precisão que até parece estarmos dentro das histórias.
Existem livros e autores divertidos, sérios, inteligentes, comoventes, por vezes trágicos, que fazem pensar. Tal como a vida.
O livro compra-se, lê-se, oferece-se, discute-se... vive-se.
O que fazer depois da leitura?!
Bom seria ouvir estas palavras sempre:
“...adoro ler. Comecei desde muito pequeno, ainda andava na Escola Primária, a devorar livros, e nunca mais parei, e foi devido a eles que surgiu a minha paixão por História. Os livros são a única coisa da qual eu não prescindo, no dia em que não puder ler é porque estou debaixo da terra...”
E não estas:
“... não leio, porque à minha volta ninguém lê. Não leio porque gasto o dinheiro com o telemóvel. Não leio porque esqueci o sentido de muitas palavras que vêem nos livros. Não leio porque está sempre a televisão ligada.”
...leitores devidamente identificados
Carlos Garcia
Ler é, suscitar o silêncio interior, lutar contra a violência destruidora do tempo, fazer uma homenagem à inteligência humana, ler é procurar, compreender, descobrir.
Pegando num livro, quem leu por exemplo O Diário de Ann Frank, ficou a saber um pouco mais sobre o nazismo. Provavelmente alguns não tinham uma ideia precisa do que tinha sido e a noção de todo o mal que tinha feito a milhões de inocentes. Quem leu este livro não vai certamente reivindicar este regime no futuro.
Pegando num autor, ler Eça de Queirós, talvez o melhor escritor à face da Terra, (e é português), leva-nos a viajar no tempo, mas com uma precisão que até parece estarmos dentro das histórias.
Existem livros e autores divertidos, sérios, inteligentes, comoventes, por vezes trágicos, que fazem pensar. Tal como a vida.
O livro compra-se, lê-se, oferece-se, discute-se... vive-se.
O que fazer depois da leitura?!
Bom seria ouvir estas palavras sempre:
“...adoro ler. Comecei desde muito pequeno, ainda andava na Escola Primária, a devorar livros, e nunca mais parei, e foi devido a eles que surgiu a minha paixão por História. Os livros são a única coisa da qual eu não prescindo, no dia em que não puder ler é porque estou debaixo da terra...”
E não estas:
“... não leio, porque à minha volta ninguém lê. Não leio porque gasto o dinheiro com o telemóvel. Não leio porque esqueci o sentido de muitas palavras que vêem nos livros. Não leio porque está sempre a televisão ligada.”
...leitores devidamente identificados
Carlos Garcia
29.7.06
MOTIVAR PARA A LEITURA
Eduardo Prado Coelho define assim o acto da leitura:
“Ler é um infinitivo pessoal como morrer ou amar: é entrar num espaço onde só a releitura é leitura. Perto de um tempo outro, destroçados os eixos da cronologia. Igual a uma boca nocturna que nos prenda. Não é apenas alinhar os signos propostos no fio mais saliente do discurso. Nem basta que fiquemos enleados, enlodados, no laço, lago, que as palavras, muitas, apertaram. Caminhamos para uma leitura em que as mesmas palavras, lidas, abolidas, delidas, se erguem, no seu jogo de incidências, marcas, incisões, para fazerem de nós, aparentes leitores, um certo limiar, uma constelação de traços esboçados”.
Não sou um especialista em letras... sou professor de educação física, no entanto gosto muito de livros e dos livros. Actualmente estou na direcção de um Centro de Recursos de um estabelecimento de ensino, daí que as minhas maiores preocupações estejam em não só divulgar o livro como também em motivar para a leitura. A leitura é uma actividade essencial no mundo civilizado. Não chega saber ler, isto é, descodificar um alfabeto em palavras e frases mais ou menos compreensíveis. É necessário gostar de ler. E o gostar de ler implica, não só obras técnicas e científicas, mas também, e principalmente, obras literárias.
Se uma criança for, desde o berço, habituada a ouvir histórias lidas ou contadas pelos pais, se ela for motivada e bem acompanhada na escola, se lhe derem tempo, dentre o oceano das actividades que lhe impõem, para se encontrar consigo num quarto à frente de um livro, talvez, quando crescer seja um adulto que ame a leitura. Doutro modo, teremos cidadãos alfabetizados, mas extremamente incultos e de uma enorme pobreza de espírito.
Vivemos um momento social em que as pessoas têm imensas solicitações. A vida está de tal modo preenchida que são poucos os momentos que cada um tem para se encontrar consigo próprio. Após um dia agitado de trabalho, o adulto regressa a casa e não tem já vontade senão para dar uma olhadela rápida para a televisão e deitar-se. Se houver filhos, estes mal vêem os pais.
Por outro lado a vida destes não é muito diferente da dos pais. Passam o dia na escola, com imensas disciplinas, imensas matérias a estudar ao mesmo tempo, testes, exames, trabalhos, fichas, visitas de estudo, actividades, começando a ser difícil encontrar algum tempo livre para estar sozinho. E se isso acontece, não sabem como passar esse espaço de tempo, porque não estão habituados a momentos de reflexão e de encontro consigo mesmos.
Ora, a desmotivação em relação à leitura que cada vez mais se faz sentir é um sintoma que deriva exactamente de todo este contexto social. As queixas, as constatações de que as crianças e os jovens não lêem são imensas. Eles realmente não lêem e é muitas vezes, uma espécie de castigo obrigá-los a tal actividade.
A escola deve ajudar os jovens a apropriarem-se de estratégias que lhes permitam aprofundar a relação afectiva e intelectual com as obras, a fim de que possam traçar, progressivamente, o seu percurso pessoal enquanto leitores e construírem a sua autonomia face ao conhecimento. Favorecer o gosto de ler implica que a instituição escolar proporcione ocasiões e ambientes favoráveis e que promova a leitura de obras variadas em que os alunos encontrem respostas para as suas inquietações, interesses e expectativas. Ler não pode, pois, restringir-se à prática exaustiva da análise, quer de excertos, quer mesmo de obras completas. O prazer de ler, a afirmação da identidade e o alargamento das experiências resultam das projecções múltiplas do leitor nos universos textuais.
Em geral, os alunos do ensino básico, secundário, ou universitário não estão suficientemente motivados para a leitura. As grandes causas, segundo um estudo de Maria Victoria Reyzábal e Pedro Tenorio (, 1992, El Aprendizaje Significativo de la Literatura, Madrid, Editorial La Muralla), são: “1. A sociedade actual oferece outros produtos para os tempos livres que requerem menos esforço. 2. As obras recomendadas e as técnicas de acesso não são adequadas para a idade e interesses dos alunos (ora pela sua extensão, tema, estilo, ou complexidade).”
Para fomentar o hábito e o gosto pela leitura, convém que esta comece antes de saber ler. Aos mais pequenos há que ler-lhes e comentar-lhes obras adequadas para a sua idade (seleccionadas quanto ao que dizem e como dizem) para que conheçam a tradição popular, fantasiem, sonhem com lugares remotos ou aventuras utópicas e constatem realidades próximas. Ler implica realizar uma actividade criadora, é conversar com outros. A leitura exige, pelo menos no início, solidão, concentração, silêncio, mas mais tarde pode ser compartilhada e debatida com os companheiros. As preferências variam com a idade, o sexo, o meio, o nível educativo e as características sócio-culturais. Ler traz consigo descoberta, comunicação, possibilidade de nos conhecermos melhor a nós mesmos e enriquecimento intelectual.
Maria Vitalina Leal de Matos ( 1987, «Reflexões sobre a leitura», em Ler e Escrever. Ensaios, Lisboa, IN-CM ) diz-nos que: “o ensino da literatura é, em rigor, impossível, pela simples razão de que a experiência não se ensina. Faz-se. Mas podem e devem criar-se as condições para essa experiência: removendo obstáculos e proporcionando ocasiões.”
Carlos Garcia
Eduardo Prado Coelho define assim o acto da leitura:
“Ler é um infinitivo pessoal como morrer ou amar: é entrar num espaço onde só a releitura é leitura. Perto de um tempo outro, destroçados os eixos da cronologia. Igual a uma boca nocturna que nos prenda. Não é apenas alinhar os signos propostos no fio mais saliente do discurso. Nem basta que fiquemos enleados, enlodados, no laço, lago, que as palavras, muitas, apertaram. Caminhamos para uma leitura em que as mesmas palavras, lidas, abolidas, delidas, se erguem, no seu jogo de incidências, marcas, incisões, para fazerem de nós, aparentes leitores, um certo limiar, uma constelação de traços esboçados”.
Não sou um especialista em letras... sou professor de educação física, no entanto gosto muito de livros e dos livros. Actualmente estou na direcção de um Centro de Recursos de um estabelecimento de ensino, daí que as minhas maiores preocupações estejam em não só divulgar o livro como também em motivar para a leitura. A leitura é uma actividade essencial no mundo civilizado. Não chega saber ler, isto é, descodificar um alfabeto em palavras e frases mais ou menos compreensíveis. É necessário gostar de ler. E o gostar de ler implica, não só obras técnicas e científicas, mas também, e principalmente, obras literárias.
Se uma criança for, desde o berço, habituada a ouvir histórias lidas ou contadas pelos pais, se ela for motivada e bem acompanhada na escola, se lhe derem tempo, dentre o oceano das actividades que lhe impõem, para se encontrar consigo num quarto à frente de um livro, talvez, quando crescer seja um adulto que ame a leitura. Doutro modo, teremos cidadãos alfabetizados, mas extremamente incultos e de uma enorme pobreza de espírito.
Vivemos um momento social em que as pessoas têm imensas solicitações. A vida está de tal modo preenchida que são poucos os momentos que cada um tem para se encontrar consigo próprio. Após um dia agitado de trabalho, o adulto regressa a casa e não tem já vontade senão para dar uma olhadela rápida para a televisão e deitar-se. Se houver filhos, estes mal vêem os pais.
Por outro lado a vida destes não é muito diferente da dos pais. Passam o dia na escola, com imensas disciplinas, imensas matérias a estudar ao mesmo tempo, testes, exames, trabalhos, fichas, visitas de estudo, actividades, começando a ser difícil encontrar algum tempo livre para estar sozinho. E se isso acontece, não sabem como passar esse espaço de tempo, porque não estão habituados a momentos de reflexão e de encontro consigo mesmos.
Ora, a desmotivação em relação à leitura que cada vez mais se faz sentir é um sintoma que deriva exactamente de todo este contexto social. As queixas, as constatações de que as crianças e os jovens não lêem são imensas. Eles realmente não lêem e é muitas vezes, uma espécie de castigo obrigá-los a tal actividade.
A escola deve ajudar os jovens a apropriarem-se de estratégias que lhes permitam aprofundar a relação afectiva e intelectual com as obras, a fim de que possam traçar, progressivamente, o seu percurso pessoal enquanto leitores e construírem a sua autonomia face ao conhecimento. Favorecer o gosto de ler implica que a instituição escolar proporcione ocasiões e ambientes favoráveis e que promova a leitura de obras variadas em que os alunos encontrem respostas para as suas inquietações, interesses e expectativas. Ler não pode, pois, restringir-se à prática exaustiva da análise, quer de excertos, quer mesmo de obras completas. O prazer de ler, a afirmação da identidade e o alargamento das experiências resultam das projecções múltiplas do leitor nos universos textuais.
Em geral, os alunos do ensino básico, secundário, ou universitário não estão suficientemente motivados para a leitura. As grandes causas, segundo um estudo de Maria Victoria Reyzábal e Pedro Tenorio (, 1992, El Aprendizaje Significativo de la Literatura, Madrid, Editorial La Muralla), são: “1. A sociedade actual oferece outros produtos para os tempos livres que requerem menos esforço. 2. As obras recomendadas e as técnicas de acesso não são adequadas para a idade e interesses dos alunos (ora pela sua extensão, tema, estilo, ou complexidade).”
Para fomentar o hábito e o gosto pela leitura, convém que esta comece antes de saber ler. Aos mais pequenos há que ler-lhes e comentar-lhes obras adequadas para a sua idade (seleccionadas quanto ao que dizem e como dizem) para que conheçam a tradição popular, fantasiem, sonhem com lugares remotos ou aventuras utópicas e constatem realidades próximas. Ler implica realizar uma actividade criadora, é conversar com outros. A leitura exige, pelo menos no início, solidão, concentração, silêncio, mas mais tarde pode ser compartilhada e debatida com os companheiros. As preferências variam com a idade, o sexo, o meio, o nível educativo e as características sócio-culturais. Ler traz consigo descoberta, comunicação, possibilidade de nos conhecermos melhor a nós mesmos e enriquecimento intelectual.
Maria Vitalina Leal de Matos ( 1987, «Reflexões sobre a leitura», em Ler e Escrever. Ensaios, Lisboa, IN-CM ) diz-nos que: “o ensino da literatura é, em rigor, impossível, pela simples razão de que a experiência não se ensina. Faz-se. Mas podem e devem criar-se as condições para essa experiência: removendo obstáculos e proporcionando ocasiões.”
Carlos Garcia
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