Da leitura atenta de uma entrevista de Daniel Pennac, sem dúvida poderemos partir para algumas reflexões relacionadas com a temática que estamos a abordar. Trata-se de um autor de reconhecido valor mundial com experiência de ensino e que na entrevista não só nos proporciona o seu pensamento, como também nos obriga a olhar para o futuro com algum cuidado.
Sou da opinião, que nada substituirá um livro. Dificilmente as novas tecnologias o farão, a não ser que ... isto mude muito. A abordagem de um livro, obedece a um tempo próprio e a um espaço próprio também, numa conjugação e correlação permanente destes dois factores. O livro será sempre o elo de ligação entre nós e o mundo. Agora o tempo que vamos estar com ele é que vai variar e aqui entram muitos factores que podem condicionar esta relação. Daniel Pennac, levanta alguns:
- a maneira como a escola nos apresenta o livro;
- o comportamento dos Professores;
- a falta e por vezes fraca comunicação.
Eu acrescentaria outros que podem ser determinantes:
- a desfragmentação do conceito de família;
- as dificuldades de ordem física adiadas por variadas razões, entre as quais, questões económicas (como é que uma criança com problemas visuais vai gostar de ler?, como é que uma criança com problemas ao nível da concentração vai gostar de ler?...), não podemos esquecer que existe um grande número de crianças cujas limitações a nível intelectual, motor, visual entre outras são de tal gravidade que lhes torna impossível o acesso ou interesse à leitura.
A educação e a vida nascem juntas, correm juntas, desenvolvem-se juntas, morrem juntas. Enquanto professores actuamos e influenciamos num determinado tempo o processo educativo. Todas as pessoas podem, gostam e querem aprender a ler, agora temos de respeitar e compreender os tempos de cada uma. Estimular cedo também me parece um factor positivo. Motivar, sobretudo sem pressa tendo em conta:
• a interacção com os outros
• o êxito de cada tarefa
• a variedade de actividades propostas
• o prazer de manusear o material de leitura .
Termino este pequeno comentário com esta “pérola” de Daniel Pennac:
“ ...vivemos... (num tempo) ... onde você envaidece alguém ao lhe dizer que é inteligente demais para ter coração e o insulta se lhe disser que tem coração demais para ser inteligente.”
Carlos Alberto Ferrão Garcia